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Publicado em: 03 Agosto 2024

Matar projetos!

Artigo da autoria de Eduardo Espinheira, docente do Mestrado em Gestão de Projetos da Escola Superior de Tecnologia e Gestão do Politécnico do Porto.

O ambiente na reunião era leve. O António, o nosso gestor de projeto, estava animado. A equipa estava motivada, o projeto estava a cumprir o planeado e todos os indicadores evidenciavam o bom trabalho que estava a ser feito. No entanto, ele sabia que havia um pormenor que estava a ser ignorado.

O António liderava um projeto inovador de desenvolvimento de software para gestão de inventários, que, inicialmente, prometia revolucionar a forma como as pequenas e médias empresas geriam os seus recursos. A tecnologia escolhida e em implementação era robusta, a equipa altamente qualificada, o cliente estava desde o início a mostrar abertura e disponibilidade em todas as interações.

Surgiram alguns rumores na comunicação social que a regulamentação iria tornar a solução obsoleta antes mesmo de ser lançada. Ele sabia que, continuar com o projeto, significaria desperdiçar recursos valiosos que poderiam ser redirecionados para outras oportunidades. A decisão de cancelar um projeto que estava a correr bem, mas que já não fazia sentido, era difícil. O peso sentido era enorme, parecia uma traição, meses de esforço e dedicação de todos desperdiçados. O António hesitou, ele não queria matar o projeto!

A experiência do gestor de projeto é rica em situações limite, este cenário do António é bastante vulgar. A hesitação vem da sensação de que cancelá-lo seria uma perda irreparável. No entanto, a verdadeira perda reside em continuar a investir em algo que já não se alinha com os objetivos estratégicos da empresa ou com pressupostos indisponíveis.

Não há nenhuma regra geral ou bala mágica. Ainda assim, a decisão deve ser tomada de uma forma informada e consciente. Para isso, podemos tentar criar um esboço de uma árvore de decisão com as seguintes questões:

 

Os pressupostos iniciais do projeto ainda são válidos?

- Sim: Mantenha o projeto.

- Não: Reavalie a viabilidade do projeto com os novos pressupostos.

Existem mudanças nas condições de mercado que afetam o projeto?

- Não: Continue conforme o planeado.

- Sim: Reavalie o projeto e ajuste ou cancele conforme necessário.

Há riscos significativos não mitigados no projeto?

- Não: Continue conforme o planeado.

- Sim: Determine se os riscos podem ser mitigados; se não, considere o cancelamento.

Os resultados obtidos até agora justificam a continuação do projeto?

- Sim: Continue com o projeto.

- Não: Analise os motivos dos resultados insatisfatórios e decida se podem ser corrigidos.

O projeto tem excedido prazos e orçamentos?

- Não: Continue conforme o planeado.

- Sim: Avalie a capacidade de voltar ao caminho certo; se inviável, considere cancelar.

O projeto continua a ter apoio das partes interessadas?

- Sim: Continue a engajar as partes interessadas.

- Não: Considere a viabilidade sem o apoio e tome a decisão de continuar ou cancelar.

O projeto está a causar impactos negativos em outras áreas da organização?

- Não: Continue conforme o planeado.

- Sim: Avalie os impactos e considere o cancelamento para minimizar os danos.

O projeto ainda alinha com os objetivos estratégicos da organização?

- Sim: Continue a monitorar e garantir que permanece alinhado.

- Não: Considere cancelar e redirecionar recursos.

O projeto está a fornecer valor ou retorno esperado?

- Sim: Continue e monitore o valor gerado.

- Não: Avalie se as expectativas podem ser ajustadas ou se o projeto deve ser cancelado.

Existem oportunidades melhores que merecem a redistribuição de recursos?

- Não: Continue com o projeto.

- Sim: Redirecione recursos para as oportunidades mais promissoras.

A decisão de cancelar um projeto é difícil, mas muitas vezes é necessária. Reconhecer a importância desta ação e implementar processos claros de avaliação intermédia durante os projetos pode ajudar as organizações a evitar a armadilha do desperdício. Por tudo isto, nunca se esqueça, matar um projeto pode ser a solução!

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