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Publicado em: 02 Julho 2024

Internacionalização sustentável: Uma utopia imprudente?

Artigo de opinião de Telma Mendes, sub-diretora do Mestrado em Gestão e Internacionalização de Empresas da Escola Superior de Tecnologia e Gestão do Politécnico do Porto.

Os benefícios da internacionalização, desde que devidamente planeada, são vastamente apregoados, especialmente para as empresas oriundas de mercados estreitos e saturados. Na sua essência, a internacionalização pode ser vista como uma resposta a um défice em determinada dimensão – seja ele de mercado, de recursos ou de inovação. Contudo, a questão que se coloca é sobre a natureza deste processo e como ele se alinha com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). Vivemos numa era de conectividade constante e de rápidas mudanças, sendo míope e complacente ignorar os impactos sociais e ambientais da internacionalização.

Como resposta efetiva às pressões de mercado e para garantir a competitividade, muitas empresas adotam estratégias de internacionalização desarticuladas da sustentabilidade, resultando na degradação dos recursos naturais, na falta de padrões éticos e em respostas inadequadas às necessidades sociais e ambientais dos mercados de destino. Problemas como comportamentos empresariais irresponsáveis, falta de formação em sustentabilidade, pressão por resultados financeiros imediatos e a ausência de competências estratégicas para uma internacionalização sustentável são comuns.

Ao introduzirmos os ODS na equação, a complexidade aumenta. As empresas precisam alinhar as suas estratégias com alguns dos ODS, como a redução da desigualdade (ODS 10), o trabalho digno e crescimento económico (ODS 8) e a ação climática (ODS 13). A adaptação, flexibilidade, resiliência, trabalho e dedicação são essenciais para alcançar uma vantagem competitiva sem descurar a sustentabilidade. No entanto, se as empresas não conhecem outra realidade ou não lhes é possível adotar práticas mais sustentáveis, como romper com este ciclo de insustentabilidade?

É necessário um olhar holístico e sistémico sobre a expansão internacional, envolvendo as três vertentes do triple bottom-line económica, social e ambiental. A internacionalização sustentável deve operar numa construção reticular, onde as ideias se interligam e resultam em novas práticas empresariais responsáveis. Novos formatos de negócio e parcerias que espelham as tendências atuais de sustentabilidade podem surgir, mas identificar possíveis áreas cinzentas onde a rápida internacionalização compromete os ODS é fundamental. Estaremos a ser imprudentes na procura por um caminho mais sustentável para a internacionalização?

A resposta a esta questão não reside apenas nas vantagens ou desvantagens económicas de uma internacionalização acelerada, mas sim em como estas práticas se alinham com os ODS. Um processo de internacionalização responsável pode ser um verdadeiro lugar de encontros entre empresas e mercados, permitindo o surgimento de compromissos genuínos que transcendem o lucro e promovem uma economia colaborativa.

Os gestores devem ser capazes de incorporar os ODS na estratégia de internacionalização, estabelecendo métricas claras para medir o impacto social e ambiental. A transparência e práticas empresariais responsáveis são essenciais para assegurar o cumprimento dos ODS, demonstrando que o crescimento económico e a sustentabilidade são interdependentes, e não mutuamente exclusivos.

 

 

 

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